O que mais me custou no Jamor foi aquele fim. Não só o desrespeito ao Vitória, mas perceber que o plantel pode estar já voltado contra Jesus. Isso significa deitar fora o que de bom foi feito este ano (não, não fiquei contente com a época, mas começar tudo do zero não me parece ser o caminho mais curto para os títulos). Não tenho medo que Jesus vá para o Porto. O Porto, caso ainda não tenham reparado, já era fortíssimo com Vítor Pereira. O que me mete mesmo medo é o Benfica não ter substituto à altura. Um substituto que ponha o Benfica a jogar como jogava. O Benfica não acaba se Jorge Jesus sair. Mas se não vier alguém tão ou mais competente, o Benfica acaba comigo. E quem é que eu vejo como treinador do Benfica?
1. Hipóteses impossíveis, irrealistas, mas tão boas que há que escrever sobre elas
1. José Mourinho
Recebido na Luz em apoteose, Mourinho começaria a abrir a dizer que todos os seus títulos nos azuis tinham sido comprados. Mostraria provas irrefutáveis e diria que nem tocou na Champions de 2004 "porque tinha sido o título mais sujo de sempre". A UEFA, com provas tão concretas, suspenderia o Porto das provas da UEFA por 25 anos, e os azuis desceriam à 2ª distrital. Na Luz, Mourinho mostra-se-ia um Benfiquista à antiga, chorando em cada golo e conferência de imprensa. Os jogadores tatuariam o emblema de tão ligados ao treinador.
Mourinho levantaria a Champions na Luz, dizendo que era o seu sonho.
2. Jurgen Klopp
O Benfica torna-se, em menos de um mês, no clube mais cool da Europa. A banda sonora na Luz passa a ser rock n`roll e a equipa joga como os Doors tocavam. A Europa fica rendida aos rapazes da Luz, que em cada entrevista mostram irreverência, criatividade e futebol. A águia vitória entraria na Luz no braço de Klopp, ambos de óculos escuros. Quando a equipa chega ao Dragão, saem do autocarro impávidos e serenos, todos de fato e óculos escuros, à Reservoir Dogs, ignorando as pedras que chovem de todo o lado. Banda sonora: "Little Green Bag".
Quando Enzo senta Helton e faz o 0-3, finge cortar-lhe a orelha. Klopp, bebâdo, mija na campa de Bella Guttman nos festejos da Champions.
A C., como o resto do mundo, deseja, no seu íntimo, ter nascido Benfiquista e eu seria visto nu a correr por Lisboa.
2. Hipóteses reais e boas, que me deixariam tão nervoso como contente com a mudança
Marcelo Bielsa e Pellegrini
Treinadores sul-americanos com aquela filosofia "Guardiola" de pôr os jogadores a passarem a bola a outros com a camisola igual, com uma filosofia de ataque, mas que dariam ao Benfica uma aura à Gabriel Garcia Marquez. As palavras de Bielsa antes de cada derby seriam eternas. Os jogadores do Benfica deixariam de ser milionários mimados e dedicariam todas as vitórias ao povo português que sofre. Bielsa diria que Gaspar só era Benfiquista nas palavras, não nos actos. Quando entrássemos no D. Afonso Henriques, faríamos guarda de honra ao Vitória, para nos limparmos da vergonha de não os termos visto levantar a Taça.
Pellegrini manter-se-ia low profile e demasiado educado para festejar as 30 vitórias consecutivas no campeonato.
O Benfica seria um exemplo de ética, honra e futebol e a C. deixaria de poder dizer fosse o que fosse sobre o Benfica. Eu e todos os Benfiquistas festejaríamos as vitórias calma e melancolicamente, a ler os 100 anos de Solidão.
3. Hipótese portuguesa que me deixaria nervoso mas ainda longe do suicídio
Paulo Fonseca
Ao contrário de Marco Silva, treinador do Estoril, Paulo Fonseca praticamente não tinha jogadores de futebol quando chegou a Paços. Ao contrário de Marco, que bastava saber soletrar "Li-cá" e "Ste-ven" no 11 inicial todas as semanas para acabar o ano à frente do Sporting, Paulo Fonseca começou o primeiro treino na Mata Real sabendo que havia ali jogadores com muitos anos de José Mota. Começou por explicar o que era a bola, as suas utilidades e objectivos no jogo, e acabou com uma equipa que jogava muito à bola para os padrões lusos.
Além disso, topa-se à légua que Paulo é do Benfica. E da margem sul. Com Fonseca, o Benfica reencarnaria o espírito da margem sul dos anos 80 e até as tochas iam ser permitidas na Luz. Enzo Perez e Cardozo ficariam com bigode.
O Benfica seria campeão à rasca, mas as nossas vitórias sofridas seriam "à Benfica" e "com mística" segundo "A Bola". A C. continuaria a detestar o Benfica e eu seria visto, de bigode, a invadir o Jamor depois de darmos 7-0 ao Sporting.
4. Hipóteses estrangeiras que me deixam muito nervoso
Pochettino, Djukic, Laudrup e afins
Mais ou menos conhecidos pelas suas carreiras futebolísticas, qualquer um destes seria engolido por qualquer Setúbal que se apresentasse na Luz com 1398248634 defesas e um brasileiro a correr lá à frente. Olhariam intrigados para os jogos, a tentar perceber por que é que os métodos que utilizavam nos seus futebóis não funcionam cá no burgo. Lá pelo Natal já estariam nas suas terras, com o Benfica a 12 pontos do Porto e a 3 do Braga. Em desespero, a direcção ia buscar Paulo Fonseca ou a temível hipótese 5.
A C. festejaria o tetra campeonato lá para Fevereiro e os meus amigos salvavam-me à última de me atirar da ponte.
5. Hipótese portuguesa que me deixa muito nervoso
Rui Vitória
Rui Vitória tem ar de bom rapaz, Benfiquista e até já tem currículo. Mas não é treinador para o Benfica. E deixa-me nervoso que o seu ar de bom rapaz, o seu Benfiquismo e agora currículo enganem alguém a pensar que sim.
Eu jogo, com a C. e mais uns loucos, Egolo, um jogo do maisfutebol. Isso obriga-me a, por vezes, ter que perguntar quanto ficou um Moreirense-Gil Vicente, quem fez golos, assistências, etc. Isso leva-me a já ter passado algumas tardes da minha vida a ver jogos do Vitória como desculpa para não estudar. Como Paulo Fonseca, Rui Vitória não tinha ninguém no plantel capaz de fazer qualquer coisa parecida com jogar bom futebol. No entanto, nunca, em vários jogos que eu vi do Vitória, vi mais estratégia do que "Chuta para a frente e espera que o Baldé segure e avançamos". Reparem: eu simpatizo com o Vitória, com os seus adeptos e, no meio de toda a merda que é perder uma Taça, até dou de barato que seja para eles. Mas não há ali nada. Não há "dedo de treinador". Houve um milagre (que já tinha acontecido nos quartos-de-final com o Braga).
Com Rui Vitória, perderemos o campeonato em Novembro, mas um tropeção do Porto na Choupana (já com o campeonato ganho, pagando anos de favores) fará a nação Benfiquista acreditar. A equipa joga um futebol horrível, mas o efeito Mário Wilson continuará no ar.
Acabaremos a lutar com o Sporting pelo 3º lugar na última jornada. A C. nem sequer festeja o tetra porque a hora do jogo coincide com a hora das visitas à Psiquiatria e os médicos dizem que eu estou melhor.